JERI_MANGUE_10

Desculpe! Desculpem-me todos! Eu menti. Sei que a mentira leva para a orla, a um passo para o buraco do inaceitável. Mas eu fiz, fiz muito, faço todo dia, cada hora, em cada piscar. Eu toco estas folhas sem minhas mãos, pois elas fazem sonhando em tocar as palavras que se escrevem, e os resquícios do tesouro que ainda sinto em minhas mãos. Há ainda um grande segredo que nunca revelei, e ainda não é a hora, e não sei se virá. “Teu coração estas bem?”. Um coração nunca está bem, de ninguém, mas a resposta é sempre “sim”. Sim, eu minto. Minto, pois tive que aprender a enganar a vida. Mas vivo na guerra, escondendo-me na trincheira, enquanto estou na mira de uma arma me aguardando na posição, para quando eu levantar em direção à felicidade, o tiro se dispara, mas antes que me acerte corro com toda coragem e nudez, feliz. Ah! E a felicidade da vida durou tão pouco! E ela dura mesmo. Poderia aparecer eu e gritar “não atirem”, e no tempo não seria capaz de terminar com “pois eu só minto”. Sou um mentiroso, mas quem sabe mentindo a vossa verdade não apareça. Há muito tempo, lá entre os gregos, a mentira e o divino um dia se noivaram, e tiveram um filho, a verdade, que ninguém conheceu, apenas eles, e até hoje eles usam a mesma aliança.

Fotografia: Bela Gregório | Texto: Luan Magustero

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