Sou seu artista. Ah o céu limpo, imenso azul, desanuviado! Tu és uma obra, e devo terminar-te, pintando e esculpindo, até tua plena beleza. Comecei te olhando: impossível minha feição manifestar normalidade. Corpos se unem, como o ar que me respira, de tão leve a nuvem que me suporta divagar. Beijo-te, sem saber como, deixo os lábios se adejarem, e nos levar às alturas que voarem. Poxa, os dentes se bateram, erramos! Paramos e sorrimos um para o outro, um milagre sorriso, fechamos os olhos e os beijos já sabiam se encontrar na escuridão. Só no erro podemos viver o que há de mais vivo! Passei a mão pela obra inteira, teus cabelos puxei e tua respiração ganhou volume e pestanejou. Teu pescoço brotou, e minha boca com ávidos dentes comeu a fruta sem arrancar da árvore. A sede e o fogo aumentaram, de sabor. E dos ombros outros caminhos se abriram. Pronto, aprendi a te desenhar. Agora para esculpi-la, tiro uma das mãos de dentro de sua camisa, e a outra da calça sedenta de tomar da água dos teu lábios. E com a esperança da beleza, sem perder a intimidade da distância dos corpos, sereno impetuoso, arranquei teu véu, desanuviando-te. E a obra, para ser terminada, despiu-me, desejou me nu só para ela, apenas ela e eu, anulando toda a distância, sonhando eternidade. A obra ficou sem véu, finalizada, e eu, o artista, entrou dentro dela, e lá mora, para o eterno. Assim a obra de arte, eterna.
Fotografia: Gabriel Alexandre | Texto: Luan Magustero
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