Começou na quarta passada, em Helsinki, o Lens Politica, um importante festival de filmes com conotação política e social. A 7a edição do festival, que já trouxe para debate nomes como Norman Finkelsetin, Reverendo Billy Talen, Mike Bonanno e Elena Kovylina, abriu com o filme High Tech, Low Life, do diretor Stephen Maing. O filme retoma o tema da censura na China, que já discutimos anteriormente na matéria sobre um dos mais relevantes artistas contemporâneos, o chinês Ai Wei Wei.
Os chineses, ainda hoje, possuem internet controlada por um firewall, que impede o acesso a páginas como Facebook e Twitter. A imprensa é estatal e, assim, toda a informação passa por um crivo de seleção imposto pelo governo para proteger o império, que noticia apenas o que julga adequado, criando um falso estado de bem estar para impulsionar o crescimento da economia.
O filme de Maing, põe o dedo nessa ferida ao contar a história de dois dos primeiros repórteres cidadãos, blogueiros que burlaram a proteção e começaram a postar suas histórias. Zola, um jovem e humilde vendedor de vegetais do Norte, e Tiger Temple, mais velho e que, talvez por ter vivido o auge do comunismo de Mao, encara a questão da censura ao indivíduo de forma um pouco diferente de seu colega. Zola é irreverente, controverso e deixa claro sua vontade de fazer fama com as histórias que publica enquanto Tiger se identifica com os menos favorecidos, em uma sociedade que parece ainda em busca de identidade e independência.
Em um segmento interessante de High Tech, Low Life vemos a iminente demolição de um barraco e expulsão de um indigente do centro de Beijing, por morar próximo a um dos estádios da cidade, às vésperas das Olimpíadas de 2008. Zola assiste à situação e se aproxima para conversar, quando é surpreendido por outro cidadão que em solidariedade canta contra o regime político, ato que assusta Zola, pois sabe que esse não é o tipo de ação comum aos chineses, mas que mostra um descontentamento com a situação atual. A polícia, sempre no encalço dos novos blogueiros, monitora suas ações, mas não sabe ao certo qual é o perigo e se histórias como essa podem impactar o regime. É interessante traçar um paralelo dessa política de limpeza que vemos no filme, pois muito se assemelha à realidade que hoje estamos sendo apresentados: favelas que pegam fogo em São Paulo, remoção de famílias em áreas de obras de infraestrutura e expulsão de indigentes do centro da cidade, atitudes que vêm acontecendo devido aos mesmos eventos esportivos, que aguardamos no país.
High Tech, Low Life traz à tona essa importante discussão sobre a censura na mídia, um governo ditatorial e o papel dos cidadãos, o que parece ser uma das maiores questões da China atual.
O Lens Politica termina nesse final de semana e, nos próximos dias, voltaremos com outra matéria apresentando um pouco mais da programação do festival, fique ligado!
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