“Cantá rap nunca foi pra homem fraco”. A razão é simples: rap não é entretenimento, rap é compromisso. Música com causa. Arte com propósito. “Muito mais que moda é manifesto”.
Neste último 14 de julho, “pleno domingão, flango, macalão”, o rap reuniu grande público em São Paulo para o show de lançamento do DVD, fruto da parceria Criolo e Emicida, editado a partir da filmagem de 40 gopro’s, em setembro de 2012.
Nos bares do espaço, nenhuma opção de bebida alcoólica – os MC’s fizeram questão disso para que não houvesse censura e a entrada de menores de idade fosse liberada. Afinal, o “rap já salvou mais muleque que qualquer projeto social”.
Assim, lado a lado, famílias, manos e patricinhas gritavam em conjunto que “não existe amor em SP”. Apesar de Emicida ter conquistado alguma simpatia em 2009, foi com Nó na Orelha, disco lançado por Criolo em 2011, que o rap caiu de vez no gosto da classe média. Ironia? Não… “Nóis vai falá pra quem concorda ou pra quem precisa contrariá?”.
A mistura dançante de rap com metais e batuques de Criolo, se intercalava às rimas rápidas e samples embalantes de Emicida . “Onde falta respeito, a amizade vai pro lixo”. A apresentação com DJ Dandan, DJ Nyack, Rael da Rima, Juçara Marçal, Daniel Ganjaman, Thiago França, Marcelo Cabral e outros companheiros teve mais de duas horas e meia de rap de qualidade. O pequeno intervalo foi utilizado por Dandan para uma breve fala sobre a origem do rap. Na volta, um pout-pourri de clássicos do rap, com as mesmas músicas deste postado a seguir, gravado em 2012, por Alexandre Matias no Sesc.
“A estrada do sonho é pra quem persiste”, diz Emicida em um discurso inspiracional, citando sua trajetória de luta no rap. O MC começou a compor ainda na infância e ficou conhecido por suas rimas de improviso na batalha da Santa Cruz. Criolo, MC desde 1989, apesar de ter fundado a Rinha dos MC’s, não improvisa. Prefere pensar e escolher a palavra precisa, que tenha o efeito mais cortante. “Na força do verso, a rima que espanca”.
“2013: não há mais espaço para racismos, homofobias e outras patifarias…”, disse Criolo duas ou três vezes durante o show. “As pessoas não são más, elas só estão perdidas… Ainda há tempo”. Imagine agora, que diferente a realidade seria se todo artista tivesse consciência de sua responsabilidade social, como têm os MC’s. “No rap, eu não sou uma estrela… sou uma arma, que cospe a verdade”. “Eles tocam no iPod, eu toco nos corações”.
“Rap: que energia é essa? Um dom, um carma, uma dívida, uma prece…”.
* O texto foi escrito com uso de trechos de músicas dos dois MC’s.
Fotos: Priscila Castilho / SOUL ART
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