Copa de 2010, Heliópolis, São Paulo | © Luisa Santosa
Alguns argumentos apontavam que o dinheiro usado na construção de estádios deveria ser destinado à Saúde, Educação e outras áreas carentes do país. Diversos cálculos foram usados para se chegar ao número de quanto o povo pagaria pela Copa.
O custo dos 12 estádios foi de R$ 8 bilhões, desse montante, 7,2 bilhões, segundo o jornal Folha de S.Paulo, vêm dos bancos federais e dos governos estaduais. Os outros 800 milhões de bancos privados.
Desde 2010, quando os estádios começaram a ser construídos, os investimentos em educação no Brasil como um todo somaram R$ 1,7 trilhão. Mesmo que os R$ 7,2 bilhões fossem devolvidos aos seus lugares de origem, as obras dos estádios canceladas e não levássemos em conta que o orçamento público é votado todo ano e tem suas porcentagens pré-definidas para cada área, esse montante poderia fazer crescer em menos de 5% os orçamentos da Saúde e da Educação, que são de R$ 104 bilhões e 106 bilhões respectivamente. Isso levando em conta o cenário irreal de que os gastos nos estádios acontecessem só em 2014 e não ao longo de quatro anos.
Para os que dizem que, mesmo assim, se trata do “nosso dinheiro”, vale lembrar que os prejuízos na economia nacional por sonegação no último ano fiscal foram de avassaladores R$ 415 bilhões, segundo reportagem do site Exame, de junho do ano passado. Esse dinheiro, por exemplo, responde por 10% de todo o PIB nacional.
Avaliadas as grandezas, vale passar para a finalidade de toda atividade econômica: o lucro. A Copa das Confederações, por exemplo, movimentou R$ 20,7 bilhões, sendo que R$ 9,7 bilhões foram somados ao PIB ao fim de 2013. A FIPE (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) aponta que a Copa do Mundo renderá ao país três vezes mais que a Copa das Confederações.
Conclui-se aqui que, a Copa, em um primeiro momento, tem uma interferência baixa nos gastos públicos. Em um segundo momento, a expectativa é que gere ganhos da ordem de quase R$ 30 bilhões diretamente, fora as oportunidades que poderão render ao recebermos 600 mil turistas. Se você é adepto do liberalismo já está contente com as possibilidades de negócios que poderão ser formadas. Se você é progressista, olho vivo na destinação do PIB para os setores carentes.
Junho de novo… e manifestações
O mundo está com os olhos virados para cá, para dentro dos estádios, mas ao redor deles também. O brasileiro e sua vigilância foram capazes de tremular bandeiras contra a FIFA e contra problemas sociais relacionados ao poder irrefreável do capital como nunca se tinha visto em momentos antecedentes às copas do mundo. Já faz parte dessa edição o envolvimento popular. Quem quiser estudar a Copa de 2014 não poderá deixar de lado, de maneira nenhuma, as palpitações sociais que a cercaram.
O brasileiro, visto por ele mesmo e por outros como povo excessivamente passivo, lança tendências no que se refere à combatividade e contará com o histórico de lutas do povo russo para que dê sequência à sua vanguarda, já que a Rússia receberá a Copa em 2018.
No Brasil, problemas que já estavam emaranhados nas nossas grandes cidades, como a supervalorização dos imóveis, as desapropriações, a violência policial e as condições sub-humanas de trabalhadores, estão mais em evidência por causa do evento. E é por isso que o povo foi e continuará indo às ruas durante o mundial. Nada mais desagradável do que ouvir por aí que o brasileiro deve parar com as manifestações e tratar bem o turista para só depois voltar a protestar.
O Brasil sempre tratou bem seus turistas, inclusive de uma maneira muito melhor do que somos tratados lá fora, de modo geral. Inclusive, tratamos o turista melhor que a nós mesmos. O complexo de vira-lata ainda nos ataca, de maneira que fazemos o possível e o impossível para agradar os que vêm de fora, principalmente os povos do hemisfério norte, que ainda representa para nós, em recaídas de ex-colonizados, o suprassumo da educação e da eficiência.
Para aqueles que dizem: “nos comportemos durante a Copa”, eu digo: “trate aqueles de casa como você trata suas visitas”.
É diante de tantas nacionalidades que cá estão que nasce a possibilidade de o Brasil elevar não só sua consciência de nação, mas também de classe e de humanidade, permitindo que, mais que alegria e hospitalidade, os visitantes voltem para casa com o espírito combativo que não imaginavam ver em nós.
Quero a seleção na final da Copa porque gosto de futebol, mas principalmente porque gosto da militância e, quanto mais tempo os olhos do mundo estiverem em cima de nós, mais publicidade haverá sobre nas reivindicações. E que este junho/julho seja ainda mais combativo do que o anterior.
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