Numa tarde fria e tipicamente paulistana, fomos até o bairro do Brás, na região centro-leste da capital, para trocar uma ideia com o intérprete Marco Santos, que dividiu conosco um tostão de sua pluralidade.

Foto por Eri Oliveira

Em seu apartamento, no coração do Brás, o intérprete nos confidenciou detalhes de sua honesta caminhada no samba e seu amor pela música. Por meio de uma conversa franca, Marco Santos falou sobre seu novo CD, “Plural”, explicitou seu respeito pelas Comunidades e Terreiros de São Paulo e explicou porque esse CD não é só dele, mas sim, nosso.

Os detalhes você confere na entrevista abaixo:

Você se apresenta como um artista muito plural e multifacetado, que, apesar de entusiasta do samba, não se atém a um único estilo musical. Pensando nisso, como começou, num primeiro momento, o seu envolvimento com a música? E com o samba?

O meu primeiro encontro foi com a música. Me lembro que eu era pequeno e os meus irmãos, em dias de domingo, queriam brincar na rua e eu não. Eu queria ficar assistindo ao programa “Concertos para a juventude”, onde passava ópera, balé… Eu achava aquilo muito legal! Achava diferente, pois não era uma proposta do meu cotidiano. Eu queria acessar aquilo que não me pertencia, pois as outras mazelas todas eu já conhecia. Daí, aos 20 anos, eu comecei a escutar MPB no rádio. Naquela época tocava muito PC Pinheiro, Bethânia, Chico Buarque, Gal, Elis, Clara etc. Mas eu nunca tive essa coisa de escutar só um estilo, eu escutava de tudo um pouco. 

Enfim, meu primeiro envolvimento foi com a música, depois com a ópera como um todo, porque eu pensava que se uma pessoa consegue cantar uma ópera, ela consegue cantar qualquer coisa, contanto que ela tenha discernimento para entender o contexto de cada texto. Por fim, o samba. Mas eu não quero só cantar samba, eu quero cantar música. Eu gosto de cantar, independente do gênero.

Além de intérprete, você é professor de matemática, daí o vulgo de “Professor”. Como você enxerga esse perfil dicotômico no qual muitos dos músicos, principalmente no Samba, estão inseridos?

Exatamente. Eu acho meio estranho esse “vulgo”, pois não sou um título. Sou mais que isso. Mas talvez as pessoas me chamem assim por respeitar a profissão, também. Daí tudo bem. Em relação a esse perfil, eu acho que não há respeito, no nosso país, com a educação e a cultura. Há um descaso da mídia e das autoridades em relação a isso. A pessoa que opta pela arte carrega um estigma de marginal perante a sociedade, mesmo nos dias de hoje. Há essa marginalização da arte e, se há, é porque não existe a valorização.

Eu acho o fim da picada ver amigos que se formam em música e não conseguem campo para trabalhar. Infelizmente não da para viver só como músico. Aqueles que conseguem, não encontram uma maneira plenamente digna, tendo sempre que se render a algumas questões. Muitas vezes o músico, com o perdão da expressão, acaba tendo que se prostituir. Em face disso, você tem que se desdobrar.

Você é integrante e praticamente um “front man” da Comunidade Samba da Alegria, roda de samba mensal que acontece no Brás. Como aconteceu esse encontro?

Na realidade não é só do Samba da Alegria. Eu devo muita coisa ao Samba do Tempo do Onça. Foi esse projeto lá da Zona Sul que primeiramente me adotou com o coração. Depois que eu acabei trabalhando com o Decão [presidente do Samba da Alegria], no projeto dele. Mas o meu contato primordial com o Samba da Alegria só aconteceu por conta do Samba do Tempo do Onça. Eu já conhecia a Alegria, pois quando vim morar no Brás, comecei a viver o bairro. Eu ia lá, num primeiro momento, como mero espectador. Só depois que eu fui me efetivar.

Foto por Danilo Ruiz

Recentemente, em 06/08, você lançou o seu primeiro disco, intitulado “Plural”, na Penha. Como foi o processo de concepção do álbum?

A concepção do CD Plural partiu do princípio de entender que o mundo não é feito de uma coisa só, o mundo é feito de várias coisas. São várias nuances. O que eu acho legal nesse CD é justamente esse caldo. É uma mistura inerente na nossa raça. O Plural tá aí pra mostrar essas infinitas possibilidades que a música nos dá. Acredito que tudo começou a partir da música “Tem gente” [Faixa 5]. Me mandaram essa música e eu já fui pensando nos arranjos, como eu faria. Gravei essa, primeiro, e depois “Cerol fininho” [Faixa 1].

A partir daí eu comecei a pedir músicas aos compositores e foi impressionante a quantidade de coisa boa que chegou até mim. O medo que eu tinha ao começar a gravar o CD era que ele ficasse igual aos demais que estão no mercado. Daí pensei que ele deveria ser uma soma de tudo isso, literalmente “Plural”. Mostrar o poder da união. Esse CD não é meu, mas sim, nosso.

Você também é conhecido por hastear a bandeira da música autoral e carregar consigo o nome de diversas comunidades e terreiros de SP. Como vê o papel destes ambientes?

Como diz Nelson Sargento, o “samba agoniza, mas não morre”, porém, está sempre na UTI. Acredito que as comunidades quebram um pouco o monopólio e mostram outras possibilidades. Ninguém precisa ficar refém de uma possibilidade só. Por que cantar quem está na grande mídia é muito legal, sim. Mas e cantar aquele rapaz ou aquela menina que está na comunidade e compôs uma música que talvez nunca será gravada? Não que eu seja esse salvador, mas assim, a ideia é sempre dar voz para quem não tem. As comunidades e terreiros tem esse papel. A minha voz está ecoando, e essa voz não é só minha.

Por fim, quais são os planos futuros para a carreira de Marco Santos, o Professor?

Como falei no lançamento do CD, o meu futuro é o agora. Penso em me apresentar mais, reunir os músicos de novo pra levar o CD Plural a outros lugares e também penso, claro, em gravar um CD novo. Estão rolando muitos convites e tudo isso é fruto de um trabalho muito importante.  Acredito que até o final do ano a gente consiga se reunir mais uma ou duas vezes novamente pra levar o show adiante.

Você encontra o CD “Plural”, de Marco Santos, no Youtube:

 

Marco Santos

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