O gangsta rap sempre foi um elemento presente na cultura hip hop. Relatos e fatos cotidianos da vida do crime, popularizado por grupos como os N.W.A no final dos anos oitenta. As suas letras são violentas e normalmente tendem a criticar a sociedade e a mostrar ao mundo a injustiça desta, e a partir dessa crítica, abrir os olhos de quem não está nem aí para a dura realidade das ruas, mesmo que isso atinja diretamente o ouvinte. Tal exposição sobre o assunto, talvez, seja o motivo pelo qual o rap, durante muito tempo, foi discriminado e rotulado como música de bandido.
Atualmente, esse tipo de música já não está tanto em evidência. Outros tipos de rap ganharam espaço, outras linguagens estão sendo apresentadas. Mas ainda há muito tópico a ser debatido.
Clara Lima, rapper de Belo Horizonte, chamou atenção para o assunto em seu último lançamento. A música Nocaute está disponível no Canal do Youtube da Clara, com um vídeo clipe que impressiona pela simplicidade, originalidade e audácia.
Com armas na mão, usando drogas e fazendo referências ao funk proibidão. Clara, como ela diz, mescla mensagem com vivência. E traz um panorama interessante sobre mulheres e o crime.
Para além de apologia, o que Clara Lima faz ao expor essas cenas é justamente apontar para uma realidade atual. Segundo os dados do Ministério da Justiça e Departamento Penitenciário Nacional, em dezembro de 2007 havia 396.760 homens presos e no mesmo período estavam presas 25.830 mulheres, perfazendo um total de 422.590 pessoas sob custódia penal, demonstrando uma diferença ampla entre ambos, no entanto o número de mulheres encarceradas no Brasil cresceu muito nos últimos anos.
A mulher ampliou nas últimas décadas, portanto, sua participação no espaço social, o que pode representar uma das razões para o aumento da criminalidade feminina.
Entre os anos de 2000 e 2014, o encarceramento feminino aumentou 503%. Esse número, no entanto, não quer dizer que cresceu em mais de 500% o cometimento de crimes, mas sim que cresceu a criminalização das mulheres. Para entender essa afirmação é preciso ressaltar primeiro que, de acordo com o Infopen Mulheres, 58% das mulheres estão presas por tráfico de drogas.
Não é curioso como números tão altos são tão poucos falados? Deveríamos agradecer a Clara por usar o rap para nos mostrar uma perspectiva tão silenciada como essa.
Não apenas isso, mas, talvez, Clara Lima também sirva como inspiração para que outras meninas enxerguem no rap uma alternativa para mudar devida. Lembrem-se, o hip hop salva.
Assim como Sabotage, Tupac ou Notorious Big também serviram e servem até hoje como referência para muitos.
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