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Na última terça feira (23/07), o Brasil e o mundo perderam um dos maiores expoentes da música brasileira. Herdeiro musical de Luiz Gonzaga, abençoado por todas as forças do universo, apresentado com raça no coração e nas mãos, orgulho de uma nação por toda a humildade e simplicidade estampada nos olhos desde criança, trazidas de berço.

José Domingos de Morais, mais conhecido como Dominguinhos, deixou esse mundo terreno e foi encantar os ouvidos de um Deus que é especialmente brasileiro, e se não for, vai querer se tornar ao ouvir as notas fervorosas e certeiras de seu acordeon arretado!

Enquanto em vida, Dominguinhos começou sua carreira cedo junto com seus irmãos, levando música às ruas com o grupo Três Pinguins. Em meio a essas apresentações em que distribuía talento de graça aos ouvidos das ruas e muitos talvez nem percebessem, um certo ouvido apurado e visionário, que respondia pelo nome de Luiz Gonzaga, sabia muito bem o que estava escutando. Admirado com o que via e ouvia, Gonzaga convidou o menino de 9 anos para ir ao Rio de Janeiro desenvolver suas habilidades. Quatro anos depois, Dominguinhos desembarcava com pais e irmãos em Nilópolis. Ganhou sua primeira sanfona das mãos de Luiz Gonzaga e passou a fazer parte de sua equipe, se apresentando e conhecendo grandes mestres da música brasileira.

Quando partiu para carreira própria, lançou 40 discos, sendo aclamado pela crítica e amigos. Formou grandes parcerias com nomes como Chico Buarque e Elba Ramalho, além de ser criador do projeto Asa Branca, com o objetivo de levar a música em forma de shows abertos em diferentes praças públicas. Dominguinhos sabia do poder transformador da música tanto para os jovens, quanto para a transformação e recriação de ambientes. Enriquecia a cultura brasileira apresentando e colocando nas mãos de crianças ainda tão pequenas, a força do forró pé de serra, muitas vezes pouco ouvido pela juventude do nosso país, que desde cedo desenvolve gostos musicais extremamente internacionalizados sem ao menos conhecer suas próprias raízes.

Ano retrasado, Dominguinhos participou de um dos projetos musicais mais ricos produzidos nos últimos anos. Bambas Dois nasceu com o intuito de reunir cultura e ritmos Jamaicanos e Brasileiros, ideia extraordinária de nada mais, nada menos que Eduardo Bidlovski, o BiD, responsável por uma das obras primas dos anos 90, Afrociberdelia, de Chico Science e Nação Zumbi.

A convite de BiD, Dominguinhos uniu o som de seu acordeon à voz de Kymani Marley, filho de Bob Marley. O resultado era de se imaginar. Tão impressionante, quanto hipnotizante. O tipo de som que dá pra deixar rolar o dia todo, ressoando as lembranças de 50 anos de carreira muito bem representada por uma história que dá fome de Brasil. Apreciem.

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