Assim como seu amigo e contemporâneo Jorge Ben, Tim Maia é um artista que pode ser dividido em diferentes fases. Se o disco África Brasil, de 1976, marca o final da fase mais celebrada de Ben para dar lugar a uma mais popular e dançante fase Ben Jor, é possível também encontrar essa transformação no som de Tim, que lançaria (em minha humilde opinião) seu último grande disco de inéditas em 1980, dando início a uma fase de muito “mais do mesmo”.

Tim Maia

Talvez por isso, tanto no caso de Ben quanto de Tim, é possível perceber também uma certa distinção entre o público dos dois artistas. Se há entre os admiradores de Tim Maia aqueles que preferem viajar ao som do groove setentista dos primeiros discos e chorar com as mais pesadas músicas de fossa do jovem cantor, há por outro lado um grande público que está mais acostumado com o som dançante do folclórico Síndico, com suas roupas cintilantes e suas aparições nos programas da Rede Globo. E não há nada de errado com isso.

Tim Maia

Há, entretanto, um terceiro grupo que não está nem lá e nem cá. Não sei afirmar se acontece pela mística que há em torno dos dois aclamados discos de 1975, da chamada fase Racional, que ganharam em qualquer sebo o posto de tesouro perdido, ou se porque nos dois álbuns está gravada a maioria dos covers tocados na noite paulistana quando o assunto é Tim Maia. O que acontece é que há poucos clichês na música brasileira como resumir Tim Maia à fase Racional, como se nela estivesse contida toda a obra do grande mestre do samba soul.

Tim Maia

Não se trata de diminuir a importância dos dois discos – ou de quem conheça apenas essa fase. A ideia desta série de posts, batizada de “Tim Maia, muito além do Racional”, é compartilhar com o leitor alguns outros discos de Tim que também merecem fazer parte de qualquer playlist, em uma viagem musical pela extensa e riquíssima obra do cantor carioca. Discos como o de 1973, um dos pilares da sonoridade samba soul e que influenciaria o som de bandas como a Black Rio, Hyldon, Carlos Dafé, Bebeto e os mais novos Seu Jorge, Ed Motta, Funk Como Le Gusta, Clube do Balanço, entre dezenas de outro nomes.

Por que merece ser ouvido?

O disco de 1973 é o ponto médio entre os dois anteriores (1970 e 1972) e a fase Racional (1975), juntando as melodias e refrões que fazem o coração sorrir, com o soul temperado à brasileira, de grooves pesados e solos ácidos. São desse álbum os hits Réu Confesso, que abre o disco, e Gostava Tanto de Você, escrita por Édson Trindade, que havia cantado com Tim no grupo Os Tefas.

Entretanto, até porque as duas canções citadas já não soarão como novidade aos ouvidos do leitor, meu destaque vai para outras quatro canções. As duas primeiras são os sambas soul Compadre e New Love, dois sons que começam como baladas e, ao chegarem o clímax, fazem o ouvinte dançar mesmo que involuntariamente, copiando os passos de Tim no vídeo abaixo. Destaque também para o refrão da segunda, com muita influência do gospel americano e a participação (em todo o disco) do backing vocal Genival Cassiano dos Santos, nosso mestre Cassiano.

Nesse registro, onde é possível ver Tim mostrando seu dom musical também como baterista (assim começou sua carreira nos Tijucanos do Ritmo), está também a visceral Do Your Thing, Behave Yourself, faixa do disco de 1973. No dialeto, na entonação, no groove, nos metais, o som de Tim não deve nada para o que estava sendo feito de melhor na música negra da época – cultura vivenciada pelo cantor quando morou na América. Apenas Tim doing his thing!

A última indicação é o groove O Balanço, um funk rasgado de linhas de metais viciantes, dialogando com um solo distorcido de guitarra e um órgão Hammond fritando em clima psicodélico. Um som tão bom que ganhou duas versões de peso, uma pelo Funk Como Le Gusta, outra pelo Nação Zumbi. Mas que não se cometa o erro de ouvir apenas estas citadas: assim como a maioria dos discos de Tim Maia dessa época, o de 73 é um para ouvir sem pular faixa nenhuma. Comprove!

  1. Réu Confesso 0:00
  2. Compadre 3:37
  3. Over Again 6:32
  4. Até Que Enfim Encontrei Você 9:54
  5. O Balanço 11:38
  6. New Love 15:11
  7. Do Your Thing, Behave Yourself 19:08
  8. Gostava Tanto de Você 22:17
  9. Música no Ar 26:34
  10. A Paz no Meu Mundo É Você 29:12
  11. Preciso Ser Amado 32:23
  12. Amores 35:20


Ficha técnica

Bateria – Myro
Baixo – Barbosa
Piano – Cidinho
Órgão – Pedrinho
Guitarra – Paulinho
Violão – Tim
Violão de 12 cordas – Neco
Conga e tumba – Ronaldo
Ganzá e tamborim – Roberto
Cowbell – Mita
Trompete – Waldir Barros, José C. Amorim
Sax tenor – Aurélio Marcos
Sax barítono – Maurilho Faria
Trombone – Edmundo Maciel
Trompas – Znedek Suab, Carlos Gomes
Vocais – Paulo Smith, Sheila Smith, Gracinha, Edinho, Cassiano, Amaro, Tim
Arranjos – Tim Maia (arranjos de base), Waldir A. Barros (metais e cordas)
Produzido por Tim Maia

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