Documentário Maiêutica retrata as diferentes artes das quebradas e os desafios da cultura nas periferias de São Paulo

 

A representação da quebrada pela mídia nunca contou em detalhes o que acontece nos becos e vielas, e por esse motivo em 2018, André Luiz de Alcântara, 36, morador da Brasilândia zona Norte de São Paulo, conhecido como Dre-vilaqua, músico, artista, cantor produtor, idealizou o Documentário Maiêutica, um produto que retrata as artes dentro das periferias, apresentando artistas que desenham e influenciam a cultura dentro das favelas, mesmo sem acesso e recursos para fazer acontecer.

Neste dia 28/02, na plataforma do Youtube, o documentário Maiêutica. com um pouco mais de uma hora de duração, vai te fazer chorar e se reconhecer nas histórias de pessoas e movimentos das quebradas paulistanas, que mesmo em meio a luta, o luto e os desafios de estar em um País tão desigual, encontram nas artes a saída de novos olhares e significados para a vida.


O audiovisual é chamado de sétima arte, um mercado que é dominado pela elite são: equipamentos, tempo e equipe tudo isso demanda dinheiro, e na periferia é exatamente a “grana” que falta, mas “quem quer, dá um jeito !”, conta Dre-vilaqua.Você sabe como produzir e organizar um Doc, bom o André também não sabia, foram horas assistindo documentários e aprendendo mais sobre estilos de filmagens, ângulos, cores e linguagens, mas como contar uma história que não é só dele ?

Com cooperação, que nas favelas funciona como esquema de sobrevivência se ajudar para ser ajudado e assim ajudar mais pessoas, e isso não está distante das expressões artísticas, foi juntando talentos e habilidades que o sonho que acendeu em uma cabeça foi coletivizado, “você se sente parte dessa produção, sinto que o doc também é meu”, conta Maisa,26, moradora de Mauá é produtora cultural e do Documentário Maiêutica.

Para além dela a equipe conta com: Luana Bueno, Ge Alcântara, DJ Renan SP, Ale Ferreira, DJ Fox. e o apoio Ella Holding, Lu Jp Decoracoes, Soulciety. e pela Lei Aldir Blanc de incentivo a cultura de Mauá.

JE CP

Infância e Ancestralidade

As duas primeiras palavras que virão na sua cabeça assim que começar a assistir o documentário serão: Infância e Ancestralidade. e que esses elementos se conectam, pois é na Infância que recebemos as principais referências dos nossos ancestrais. “Somos quem somos porque aprendemos com alguém.”

Como na história do Sidiel Vieira, 40, Brasilândia, Zona Norte de São Paulo, músico e um dos personagens do Doc, ele conta que sua primeira memória musical surgiu na infância aos 3 anos quando ganhou um violão de brinquedo, que não saia de sua mão, o acompanhava até na igreja, sempre com os dedos entre as cordas.

“Vem de berço”, narra Urso Black, 38, Brasilândia, músico e cabeleireiro, que aprendeu com as tias sambistas, a paixão que não se apaga pela música.

Isso não é um hobby

Ainda existem desafios dentro das favelas, e um deles é reconhecer as quebradas e periféricos como corpos e territórios diversos, e não como um ser genérico, pois são essas diversidades, de cores, linguagens, corpos, territórios que colocam os personagens nas vulnerabilidades sociais e dificultam a sua profissionalização.

Pois mesmo aprendendo o que é arte a partir dos nossos ancestrais e territórios, o fato de não ter as facilidades geográficas,econômicas e sociais para frequentar espaços que profissionalizam os artistas de quebrada, torna o caminho do periférico para o mercado artístico árduo e quase que impossível de ser caminhado.

A arte que o doc apresenta não é um hobby, mas sim uma “denúncia” contra os racismos, machismos, LGBTQIA+ fobias, de quem domina a arte e reproduz nas quebradas esses ódios e assim criam uma das várias dificuldades ao acesso à profissionalização , então para não abrir mão dos sonhos alguns personagens se debruçam em outros “Trampos”, como todos os entrevistados dizem, “ Pra fazer acontecer”.

Como conta a dançarina, Mada Cris, 28, Ubatuba, Litoral Norte de São Paulo,chegou um momento que não aguentei, estava em um empresa e larguei tudo, me chamaram pra dar aula de dança em um condomínio e fui de cabeça”.

Esse movimento de visitar a infância, olhar as referências e contar as motivações e desafios aproxima qualquer um que tenha sonho em seguir na arte. E quando o documentário encontra esses sonhadores recarrega a “bateria artística” e os motiva a não desistir.

 

Um sonho que não cabe só e um doc

Logo depois que as imagens do documentário foram captadas , o projeto começou a criar novas asas e assim nasce o álbum que carrega o mesmo nome, Maiêutica. um suspiro profundo e contente, daqueles que puxam um sorriso calmo e tranquilo no final.

O álbum Maiêutica, que já está disponível em todas as plataformas musicais veio para provar que em meio a tantos percalços o trabalho ainda é feito com amor e alegria, somos gratos a música, arte e cultura por cada aprendizado e momento. O álbum esbanja dança, alegria e energia.

Unindo artistas do grande ABC como: Thais Aguiar, 31, Mauá, Sanara Santos, 22, e Cleiton ( Dose) 25,. JOTAV, 22, da Vila Brasilândia, Thiago Ticana, 31, da Zona Norte de SP.

E uma produção: Dre na direção musical, Maisa Monteiro na produção executiva e direção visual, Laura Moreno na produção executiva e Ale Ferreira na edição, o álbum vem pra mostrar que ainda é a arte, e mais do que isso, a união entre pessoas com o mesmo objetivo, que traz coragem para enfrentar tantos obstáculos para seguir.

Este texto foi escrito por Sanara Santos.

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