Marcada por conflitos políticos, sangue e morte, a arte na segunda guerra mundial rompeu paradigmas e abriu espaço para a liberdade de expressão

A denuncia da guerra, de Lasar SegallA denúncia da guerra por Lasar Segall

A arte na segunda guerra mundial é marcada por diversas mudanças históricas. No século XX tivemos acontecimentos que afetaram diretamente os movimentos políticos e sociais

Além de destacar diferenças entre a burguesia e o proletariado, as eventualidades deram força aos movimentos sindicais e artísticos, que refletem até hoje como consequência do Pós Guerra.

Mas antes de tudo… o que foi a segunda guerra?

arte na segunda guerra mundial

Marcado como um dos maiores conflitos já existentes na história da humanidade, a segunda guerra mundial foi um conflito que durou 6 anos (1939-1945), e resultou na morte de 50 a 80 milhões de pessoas com uma significativa destruição material.

Os países que participaram dessa guerra, tiveram dois posicionamentos que travou os conflitos: os Aliados, Grã-Bretanha, França, União Soviética e Estados Unidos, e o Eixo: Alemanha, Itália e Japão, caracterizados na época como fascistas.

“diga-me com quem tu andas, que eu te direi quem tu és”

Comandada por Adolf Hitler, a guerra foi declarada no final de 1939 quando a Alemanha invadiu a Tchecoslováquia. Hitler como um dos nomes mais populares, teve a ideia de unir os povos germânicos no grande Reich (tentativa de Hitler de uma ascensão ), e escreveu todas as suas ideias no seu livro “Mein Kampf”.

Mein Kampf, Adolf Hitler

O primeiro-ministro inglês, na intenção de acalmar a determinação de Hitler, foi à Alemanha e fez um acordo: “O Tratado de Munique”. No acordo, a Europa aceitava as ideias de Hitler, desde que ele parasse… mas ele não parou.

Em 1940, o exército alemão invade Dinamarca, Noruega, Holanda, Bélgica e França. Hitler dividiu o sul do governo francês, e colocou um líder nazista no lado norte.

Em 1941 houve a “Operação Barbarossa”, quando a União Soviética invadiu Berlim na intenção de dominar o território inimigo. No mesmo ano, os japoneses atacaram a base naval americana “Pearl Harbor” deixando 18 navios afundados ou encalhados e 2.403 mortes.

Pearl Harbor

Duas explosões atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, em 6 e 8 de agosto de 1945.. E foi somente com esta capitulação do Japão em 2 de setembro de 1945, quatro meses depois daquela da Alemanha, deixando uma Europa devastada, o mundo estava horrorizado com a abertura dos campos de concentração e com o número de mortos.

A influência da arte na Segunda Guerra Mundial

Cinema, teatro, livros, programas de rádio, museus, galerias de arte, pinturas e esculturas foram utilizados pelo Alemanha Nazista a fim de pressionar a violência cotidiana para quem estava sendo dominado.

Essa pressão e propagandas da época era apropriada de insinuações indiretas, veladas e ameaçadoras. Com o roubo de obras de arte, a Alemanha fazia um apelo emocional se referindo aos méritos que davam direitos a eles de adquirirem essas peças.

Arte na Segunda Guerra Mundial

A arte na guerra influenciava opiniões públicas de pequenos grupos contrários ao governo. A arte “A Face da Guerra” do pintor espanhol, Salvador Dalí, foi produzida em 1940-1941 e ele pinta uma tela que exibe uma caveira com olhos e bocas que refletem o medo, Dalí explica que é a percepção dele diante de tanto horror e brutalidade.

Movimentos artísticos da Segunda Guerra Mundial

Apesar da guerra ter sido marcada por um acúmulo de acontecimentos, pertence a esse período um enorme número de criações e novos conceitos no campo da arte: os movimentos.

Esse período é marcado pelo Expressionismo, Fauvismo, Cubismo, Futurismo, Abstracionismo, o Surrealismo, a Op-Art e o Pop-Art, que expressaram a singularidade e as problemáticas enfrentadas durante a segunda guerra.

O Grito, de Edvard Munch - Expressionismo

O Expressionismo surgiu como uma preocupação de expressar as emoções humanas. Os traços vieram com linhas, detalhes e cores mais vibrantes, que representavam a dor, a agonia, o medo em olhos fundos, e até mesmo as linhas nas mãos e no rosto.

O pintor norueguês, Edvard Munch (1863-1944), refletiu essa característica no quadro “O Grito”. Produzido alguns anos antes da guerra, a obra influenciou diretamente o cenário porque segundo o autor, representava o desespero na feição de uma pessoa, que talvez estivesse assustada com alguma brutalidade.

Natureza Morta com Ostras, de Henri Matisse - Fauvismo

O Fauvismo (deriva de ‘fauves’, feras no francês), surgiu tendo como princípio a simplificação da imagem a partir das cores sem mistura. É literalmente uma arte “agressiva” que busca revelar as emoções despreocupadas com a realidade.

Um dos artistas famosos da época foi o pintor francês Henri Matisse (1869-1954), que ilustrou a obra “Natureza Morta com Ostras” em 1940. Ele usou técnicas de colagem, e não utilizou nenhum tipo de mistura na tinta, segundo comentaristas a obra revela: desespero, morte, sensações e cenário de extrema vulnerabilidade.

Natureza Morta com Crânios de Touros, de Pablo Picasso - Cubismo

Já no Cubismo a intenção era produzir objetos, pessoas e situações que refletissem diferentes pontos de vista em um mesmo plano. As obras não tinham obrigação com o real, porém não eram abstratas, cada imagem era reconhecível e figurativa.

O pintor que mais influenciou no cubismo foi o espanhol Pablo Picasso (1881-1973). Em 1942, durante a guerra, o autor produz “Natureza Morta Com Crânios de Touros”, que comoveu inclusive Picasso, porque a obra expressa horror e medo, tendo contraste de cores fortes, azuis e violetas, além disso é caracterizada como uma alegoria do sentimento de impotência que tomava conta do artista.

Natureza Morta com Crânios de Touros, de Pablo Picasso - CubismoDinamismo de Um Cão na Coleira 1912 – Obra que retrata um cachorro em movimento, a partir de seus traços opacos e mistura de cores com contrastes em sombras.

Em 1909, inicia-se o Manifesto Futurista, publicado por Tommaso Marinetti (1876-1944) no jornal francês Le Figaro. Essa publicação deu início ao movimento artístico denominado futurismo, que é caracterizado pelas cores vibrantes e contrastes com sombras que dão a ideia do objeto em ação. 

O pintor italiano Giacomo Balla (1871-1958) estava interessado em representar um objeto, ou situação que mostrasse a experiência da aceleração, segundo ele isso era mais importante do que detalhar sua forma parada. Além disso, o futurismo celebra os progressos da tecnologia e a vida urbana.

A Persistência da Memória, Salvador Dalí - Surrealismo

Sonhos, devaneios, ausência de lógica, e fantasias foram as bases que deram origem ao Surrealismo. O movimento rejeitava os valores burgueses e seguia os ideais dadaístas, que são as artes criadas para criticar diretamente o tradicionalismo, a guerra e o sistema.

O pintor e escultor espanhol Salvador Dalí (1904-1986), foi um dos mais importantes por-voz da época. Ele influenciou fortemente o imaginário, o bizarro da vida diária, e descrevia experiências impulsionadas e sentimentos irracionais e surreais.

A obra “A Persistência da Memória” -1931, é uma das mais representativas desse movimento. Os relógios derretidos junto a um auto retrato representavam a irrelevância da passagem do tempo que para ele não tinha nenhum significado.

A Face da Guerra, Salvador Dalí - Surrealismo

Além disso Dalí pintou “A Face da Guerra”, esse quadro foi produzido em 1940 nos Estados Unidos, aparentemente o quadro demonstra toda a repulsa de Dalí pela guerra civil, demonstrando o holocausto, e a destruição.

Obras roubadas durante os conflitos

Madonna de Bruges, de Michelangelo

A maior referência de “Caçadores de Obras-Primas” é dada a estátua ‘Madonna de Bruges’ (1501/1504), de Michelangelo, que havia sido roubada da Igreja de Nossa Senhora de Bruges, na Bélgica, e que custou a vida de um dos soldados de Strokes. 

A obra a seguir é do holandês Johannes Vermeer (1819-1877), “Estúdio do Artista”, c.1660-65, óleo sobre tela, 120cm x 100 cm, Museu Kunsthistorisches, Viena. E é considerada uma das principais obras do movimento realista usando lona como suporte.

Estúdio do Artista, de Johannes Vermeer - Realismo

Este quadro mudou de mãos várias vezes, e acabou se tornando propriedade de uma família austríaca. Mais tarde foi confiscado pelo tirano nazista Adolf Hitler (1889-1945), que colocou em seu salão particular em Berchtesgaden. Hoje ele se encontra no Kunsthistorisches Museum de Viena, na Áustria.

Retábulo de Gante, de Hubert van Eyck e Jan van Eyck

Produzida pelo pintor flamengo que deu início a obra na idade média. O Retábulo de Gante é um políptico complexo e de grandes dimensões do século XV, do período inicial da pintura flamenga. O retábulo é composto por 12 painéis, oito dos quais são venezianas fechadas.

O Retábulo de Ghent, que também fora “confiscado” pelos nazistas a mando de Hitler, queria construir um grande museu de arte para o Reich Alemão. Ela foi vítima de 13 crimes e sete roubos. 

O registro superior da visão aberta mostra Deus, o Senhor,  entre a Virgem Maria e São João Batista. O interior das asas representa os anjos, cantando e tocando, e Adão e Eva do lado de fora. A notar-se a gravidez de Eva (Vida que se renova), enquanto ao alto vê-se Caim matando Abel (Vida que se esvai); no registro de Adão vê-se o ciúme que Caim tinha das oferendas de Abel, bem aceitas pelo Senhor.

Retábulo de Gante, de Hubert van Eyck e Jan van Eyck

O registro inferior do painel central mostra a adoração do Cordeiro de Deus, com vários grupos, sob a supervisão da Pomba ao alto, que representa o Espírito Santo. O Cordeiro é cercado por 14 anjos. Em primeiro plano, à esquerda, vemos um grupo de profetas judeus ajoelhados, segurando um livro. 

Atrás deles estão os pagãos, filósofos e escritores que vieram de todo o mundo, como pode ser notado pelos rostos orientais de alguns e os seus diferentes tipos de chapéus e capas. Para a direita vemos os doze apóstolos e, atrás deles, santos do sexo masculino com os Papas e outros clérigos. Ao fundo temos os mártires e à direita as mulheres levando a palma do martírio.

Os caçadores de obras primas

 

arte na Segunda Guerra Mundial

Eles eram curadores, restauradores e estudiosos da arte em geral, foram à guerra não para matar mas para recuperar telas e esculturas roubadas pelos nazistas.

Os soldados eram James J. Rorimer, especialista em arte medieval, Lincoln Kirstein, empresário cultural; e o líder de todos eles, o conservador de arte George Stout, que trabalhava no Fogg Art Museum, da Universidade de Harvard. 

Os militares americanos, entendiam os cuidados necessários que cada obra precisava ter, habilidosos em embalar uma frágil escultura ou uma tela muito antiga. A única missão era proteger o patrimônio. E não era qualquer obra: na lista incluem-se trabalhos de Leonardo Da Vinci, Michelangelo Buonarroti, Donatello, Jan Vermeer e Rembrandt van Rijn

Missão que precisou de medidas agressivas a partir do momento em que o exército nazista se envolvia na tentativa de impedir essa missão.

The Monuments Men

The Monuments Men - arte na segunda guerra mundial

O roteiro de George Clooney, que também dirigiu e fez o papel principal, junto com Grant Heslov – se baseia num livro (publicado no Brasil pela Rocco) que procurou reconstituir os fatos históricos, Caçadores de Obras-Primas – Salvando a Arte Ocidental da Pilhagem Nazista, de Robert M. Edsel.

Durante a Segunda Guerra Mundial, um grupo de 13 especialistas vindos de diferentes países é reunido para reencontrar obras de arte roubadas pelos nazistas antes que elas sejam destruídas.

Nascimento de Vênus, de BotticelliNascimento de Vênus, de Botticelli: uma das obras recuperadas

Foi então que entrou em cena, em junho de 1944, um grupo que ficou conhecido como “Monuments Men”. No filme, o grupo é representado por apenas 7 camaradas, mas na vida real tinha um total de 345 pessoas, de 13 países Aliados. Eles eram os encarregados de salvar o patrimônio cultural mundial enquanto tudo estava sendo destruído pela guerra.

Arte no pós-guerra

O mundo estava abalado pela Segunda Guerra Mundial. Milhares de mortos e feridos, holocaustos, bombardeios de Hiroshima e Nagasaki, e na tentativa incerta de reconstruir, a Guerra Fria ainda despertou temores de uma disputa nuclear.

arte na segunda guerra mundial

Além disso, essa fase do pós-guerra também conhecida como Arte Pós-Moderna é caracterizada pelo avanço da globalização, cultura de massa e o desenvolvimento tecnológico. Os processos artísticos tratavam do preconceito da imagem, do roubo de bens históricos, e da falta de ética que o eixo (Alemanha, União Soviética, Itália e Japão) tinham em relação às diferentes culturas e as oposições.

Após a guerra, inicia-se a segunda fase da arte moderna. A ideia dos artistas agora, seria constituir uma nova mentalidade sobre arte e inserir novos paradigmas, dando espaço a novas técnicas e proporcionando a liberdade de expressão.

Haus der Kunst

A visão dos artistas sobre o pós-guerra foi descrita em um dos maiores eventos no ano de 1965: a exposição Kunst zwischen Pazifik und Atlantik (Pós-guerra: Arte entre o Pacífico e o Atlântico) que foi apresentada na galeria Haus der Kunst (Casa da Arte) em Munique. Na exposição continha seções que explicavam partes específicas da guerra, além de retratar o horror pela visão da população.

Principais características da arte no pós-guerra

  • Abandono dos padrões anteriores;
  • Semelhança da arte e vida;
  • Uso de novas tecnologias;
  • Junção de estilos artísticos;
  • Interatividade das obras;
  • Questionamentos da definição de arte;
  • Aproximação da cultura com o popular;
  • Uso de materiais diferentes;

Movimentos e artistas

Agora qualquer produção artística estava associada diretamente à comunicação. Cada obra procurava meios de se comunicar com o telespectador, por esse motivo a liberdade artística foi marcante para os traços e cores, porque o artista poderia utilizar todos os meios acessíveis para se comunicar.

Andy Warhol - Campbells

Os movimentos mais importantes destacam-se em dois: O Pop Art, sendo uma “Arte Conceitual” no ano de 1962, com traços digitais, fotografia, instalação e arte urbana; Andy Warhol, ficou famoso por suas latas Campbell’s, ele buscou trazer a nova linguagem da propaganda, da facilidade e variedade de apenas um único produto. 

E o Op Art, que é um movimento artístico que teve início nos Estados Unidos em 1960, que se utiliza da ilusão óptica para criar movimento nas produções, de forma gráfica e estampada.

Op ArtO recurso procura confundir a visão humana, dando impressão de que a imagem está se movimentando, ela é vista de forma diferente de acordo com o ângulo em que se observa.

As características do Op Art consiste na exploração de recursos visuais para provocar ilusões óticas, em formas geométricas simples. O preto e branco predominam em sua produção, além disso, o Op Art defende “menos expressão e mais visualização”.

O pintor húngaro, Victor Vasarely (1906-1997), é considerado o “pai da Op Art”, em suas obras ele usa diferentes formas geométricas coloridas e combina agitações de forma constante e persistentes que causam uma sensação de velocidade e dinamismo.

 

 

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